André Piunti
a semana passada, com repercussão bem positiva, estreou a nova novela das 21h, “Amor à Vida”.
Após uma série inicial de elogios, passou a surgir um tipo de crítica um tanto desconfiável nos jornais, contra a trilha de abertura da novela, composta pelo Gonzaguinha e gravada pelo Daniel, “Maravida”.
De repente, um dos melhores intérpretes que a gente tem na história do sertanejo, um cara extremamente consagrado pela capacidade vocal, tanto pela qualidade da voz em si quanto pela afinação, virou o pior cantor da atualidade segundo diversas notícias em jornalões e sites, principalmente nas áreas que cobrem televisão. Claro, pessoas que entendem absolutamente tudo de música a ponto de cravar que a interpretação do Daniel está horrorosa.
Chegou até a sair em mais de um veículo uma justificativa constrangedora, que dava a entender que, por ser da “Som Livre”, Daniel teria sido uma espécie de “imposição”. O constrangimento surge quando se descobre que o cantor é da “Sony Music” desde 2011, e não da “Som Livre”.
Falei ontem com o próprio Daniel, que não quis entrar na “polêmica”, mas que não deixou de comentar o caso:
Nós vivemos em um país democrático em que todo mundo tem direito de expressar suas opiniões, e que bom que temos tanta diversidade de preferências e gostos. Foi um privilégio gravar essa canção a pedido dos diretores da novela, e eu estou muito feliz porque os elogios superam as críticas. Me identifiquei muito com a música, gosto de Gonzaguinha e já cantei canções dele em meus shows.
Ainda na última semana, virou notícia também um tal estrondoso manifesto nas “redes sociais” implorando para que a Globo retirasse a versão do Daniel da abertura da novela e colocasse a da Maria Bethânia. Mil e quinhentas pessoas compartilharam a ideia no Facebook, veja só, quanta gente. Um número imenso, assustador, acachapante, claro, diante dos milhões que assistem ao folhetim todas as noites. Quase uma revolução online.
O paulista Walcyr Carrasco ambientou a novela em São Paulo, colocou Daniel na abertura, a também criticada Paula Fernandes como trilha do casal apaixonado que aparece a todo momento, e o ainda desconhecido Gabriel Valim, com sua “Piradinha”, como música de fundo de uma das personagens que tem tudo pra ganhar muito espaço na novela. Quem o Walcyr pensa que é pra fazer tal afronta musical a um país que só consome “música-de-qualidade”?
Deixando a ironia agora de lado, sejamos claros: Tá doendo.
Deve ser muito difícil mesmo ser acostumado com a panela musical da MPB e defender que sertanejo só pode ter espaço em novela sertaneja, como “América”, “Paraíso” ou “Araguaia”. Deve ser pior ainda saber que os produtos da televisão estão cada vez mais próximos do povo, até mesmo nas escolhas dos artistas que farão as trilhas sonoras. E, ao que parece, é terrível constatar que o seu gosto tão refinado não é compartilhado por tanta gente quanto você gostaria.
Eu torço muito mesmo que a Globo não mexa na trilha de abertura, mesmo já tendo feito alterações sutis. A palavra oficial da emissora é de que “não há previsão sobre a troca da música”. A mudança seria uma vitória de um pensamento preconceituoso que tem sido derrubado com o tempo, mas que tem lá ainda seus surtos eventuais.
É incômodo mesmo ver que críticas rasteiras e má intencionadas ainda tenham espaço e repercutam, mas é só mais um capítulo da velha história do brasileiro que não se aceita como brasileiro.
De qualquer forma, apesar do carnaval, ainda estamos ganhando.
Reprodução/Blog Universo Sertanejo
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